Carta do Zé agricultor para Luis da cidade

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carta do Zé agricultor para Luis da cidade
Autor: Luciano Pizzatto (*)

Luis,

Quanto tempo. Sou o Zé, seu colega de ginásio, que chegava sempre atrasado, pois a Kombi que pegava no ponto perto do sítio atrasava um pouco. Lembra, né, o do sapato sujo. A professora nunca entendeu que tinha de caminhar 4 km até o ponto da Kombi na ida e volta e o sapato sujava.

Lembra? Se não, sou o Zé com sono... hehe. A Kombi parava às onze da noite no ponto de volta, e com a caminhada ia dormi lá pela uma, e o pai precisava de ajuda para ordenhá as vaca às 5h30 toda manhã. Dava um sono. Agora lembra, né Luis?!

Pois é. Tô pensando em mudá aí com você.
Não que seja ruim o sítio, aqui é uma maravilha. Mato, passarinho, ar bom. Só que acho que tô estragando a vida de você Luis, e teus amigos aí na cidade. Tô vendo todo mundo falá que nóis da agricultura estamo destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sítio do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que pará de estudá) fica só a meia hora aí da Capital, e depois dos 4 km a pé, só 10 minuto da sede do município. Mas continuo sem Luz porque os Poste não podem passar por uma tal de APPA que criaram aqui. A água vem do poço, uma maravilha, mas um homem veio e falô que tenho que fazê uma outorga e pagá uma taxa de uso, porque a água vai acabá. Se falô deve ser verdade.

Pra ajudá com as 12 vaca de leite (o pai foi, né ...) contratei o Juca, filho do vizinho, carteira assinada, salário mínimo, morava no fundo de casa, comia com a gente, tudo de bão. Mas também veio outro homem aqui, e falô que se o Juca fosse ordenhá as 5:30 tinha que recebê mais, e não podia trabalhá sábado e domingo (mas as vaca não param de fazê leite no fim de semana). Também visitô a casinha dele, e disse que o beliche tava 2 cm menor do que devia, e a lâmpada (tenho gerador, não te contei !) estava em cima do fogão era do tipo que se esquentasse podia explodí (não entendi ?). A comida que nóis fazia junto tinha que faze parte do salário dele. Bom, Luis tive que pedi pro Juca voltá pra casa, desempregado, mas protegido agora pelo tal homem. Só que acho que não deu certo, soube que foi preso na cidade roubando comida. Do tal homem que veio protege ele, não sei se tava junto.

Na Capital também é assim né, Luis? Tua empregada vai pra uma casa boa toda noite, de carro, tranquila. Você não deixa ela morá nas tal favela, ou beira de rio, porque senão te multam ou o homem vai aí mandar você dar casa boa, e um montão de outras coisa. É tudo igual aí né?

Mas agora, eu e a Maria (lembra dela, casei ) fazemo a ordenha as 5:30, levamo o leite de carroça até onde era o ponto da Kombi, e a cooperativa pega todo dia, se não chove. Se chove, perco o leite e dô pros porco.

Té que o Juca fez economia pra nóis, pois antes me sobrava só um salário por mês, e agora eu e Maria temos sobrado dois salário por mês. Melhorô. Os porco não, pois também veio outro homem e disse que a distancia do Rio não podia ser 20 metro e tinha que derruba tudo e fazer a 30 metro. Também colocá umas coisa pra protegê o Rio. Achei que ele tava certo e disse que ia fazê, e sozinho ia demorá uns trinta dia, só que mesmo assim ele me multô, e pra pagá vendi os porco e a pocilga, e fiquei só com as vaca. O promotor disse que desta vez por este crime não vai me prendê, e fez eu dá cesta básica pro orfanato.

O Luis, ai quando vocês sujam o Rio também paga multa né?

Agora, a água do poço posso pagá, mas tô preocupado com a água do Rio. Todo ele aqui deve ser como na tua cidade Luis, protegido, tem mato dos dois lado, as vaca não chegam nele, não tem erosão, a pocilga acabô .... Só que algo tá errado, pois ele fede e a água é preta e já subi o Rio até a divisa da Capital, e ele vem todo sujo e fedendo aí da tua terra.

Mas vocês não fazem isto né Luis. Pois aqui a multa é grande, e dá prisão. Cortá árvore então, vige!! Tinha uma árvore grande que murcho e ia morre, então pedi pra eu tiráa, aproveitá a madeira pois até podia cair em cima da casa. Como ninguém respondeu aí do escritório que fui, pedi na Capital (não tem aqui não), depois de uns 8 mês, quando a árvore morreu e tava apodrecendo, resolvi tirar, e veja Luis, no outro dia já tinha um fiscal aqui e levei uma multa. Acho que desta vez me prende.

Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova Lei vai dá multa de R$ 500,00 a R$ 20.000,00 por hectare e por dia da propriedade que tenha algo errado por aqui. Calculei por R$ 500,00 e vi que perco o sítio em uma semana. Então é melhor vendê, e ir morá onde todo mundo cuida da ecologia, pois não tem multa aí. Tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazê nada errado, só falei das coisa por ter certeza que a Lei é pra todos nóis.

E vou morar com vc, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usá o dinheiro primeiro pra compra aquela coisa branca, a geladeira, que aqui no sítio eu encho com tudo que produzo na roça, no pomar, com as vaquinha, e aí na cidade, diz que é fácil, é só abri e a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminoso aqui da roça.

Até Luis.

Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas não conte até eu vendê o sitio.

* É engenheiro florestal, especialista em direito socioambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado desde 1989, detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.

Um reclamar, justo?

domingo, 16 de maio de 2010

As injustiças sociais me revoltam!

Revoltam-me tanto a ponto de duvidar

De que adianta reclamar.

Quem te ouve, quem te ver?

Porra, tantas coisas para serem mudadas.

E tão poucos dispostos a fazê-las.

O que é que eu faço então?

O que você faz me diga!

Nada; será essa a resposta...

Espero que não seja a minha e nem a sua.

Quem deveria fazer?

Os ordinários do poder?

Os hipócritas do nosso dia-a-dia?

Ninguém pode fazer nada...

Enquanto somente houver revolta.

Chega de revolta.

Cadê a ação, o sentimento?

Que injustiças cometo eu.

E você quantas, quantas?

E você Justiça, luta contra seu antônimo?

Combate o mal do século?

Ah, não obtive a resposta.

Eu devo responder a mim, e você a você!

Enquanto não fizermos isso!

Só haverá palavras...

Down In A Hole

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Me enterre suavemente neste útero
Eu dei esta parte de mim pra você
Chuvas de areia caem e aqui eu sento
Segurando flores raras
Num túmulo... em florescência

Dentro de um buraco e eu não sei se eu posso ser salvo
Veja meu coração, eu o decorei como um túmulo
Você não entende que eles
Achavam que era necessário eu existir
Olhe para mim agora, um homem
Que não se deixará ser

Dentro de um buraco, me sentindo tão pequeno
Dentro de um buraco, perdendo minha alma
Eu gostaria de voar
Mas minhas asas tem sido tão negadas

Dentro de um buraco e eles puseram todas
As pedras no lugar deles
Eu comi o sol, por isso minha língua
Foi queimada do paladar
Eu fui o culpado
De se chutar nos dentes
Não falarei mais
De meus sentimentos mais profundos

Dentro de um buraco, me sentindo tão pequeno
Dentro de um buraco, perdendo minha alma
Eu gostaria de voar
Mas minhas asas tem sido tão negadas

Me enterre suavemente neste útero
(Oh eu quero estar dentro de você)
Eu dei esta parte de mim pra você
(Oh eu quero estar dentro de você)
Chuvas de areia caem e aqui eu sento
Segurando flores raras (Oh eu quero estar dentro de você)
Num túmulo... em florescência
(Oh eu quero estar dentro...)

Dentro de um buraco, me sentindo tão pequeno
Dentro de um buraco, perdendo minha alma
Dentro de um buraco, me sentindo tão pequeno
Dentro de um buraco, fora de controle
Eu gostaria de voar mas
Mas minhas asas tem sido tão negadas


Composição: Layne Staley/Jerry Cantrell


Escolhas

terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma escolha;
Tarde pra ser o recomeço,
Cedo para ser o final;
Desapontamento.
Retrospectiva e dúvidas.
Análise minuciosa.
Olhar alheio.
Um passeio no passado.
Arrependimento momentâneo;
Espontaneidade ao esquecer.
Escolher, escolher...
Dizer as palavras certas;
Errar não aprendendo.
Sempre soar como autêntico...
Embora a complexidade.
A situação exige,
Sigo à esquerda!

A Melhor

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Tão grande, tão extenso...

Imensa a diferença;

Como conseguir contemplar;

E não perceber a supremacia?

Em uma pequena tentativa.

Uma fuga temporária;

Um riso indiscreto...

E uma dúvida a atormentar.

Como poderia defini-la?

Porque preocupa sua existência?

E sabendo eu, perturbado...

Ali adiante, a resposta.

Calma ausente;

Descobrindo a cena...

Em plena incredulidade;

A Melhor.

Não Me Siga.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Em vão outrora;

Sem demora, ali.

Estando só.

Seguindo só.

Paz e calma.

Deixe-me assim.

Abandone a idéia.

Tropeço à vista?

Não estou perdido.

Eu enxergo o destino.

Portanto, não me siga.

Mas não me abandone.